“Letras Póstumas”, Reportagem do Correspondente Alfredo Diviaggi para o Jornal Morto

Idos de 1969:

Quando a estranha brisa chegar

o futuro descalço vier me buscar

Aqui estará alguém esperando

Uma tocha de si inflamando

Cubra-me com sua sutileza

Partiu o barco da tristeza

Deixo frases e uma lembrança

Um brinquedo gasto de criança

Lá pelas tantas de 1980:

Morri a seu lado, sem dores

Lobo a percorrer seus sabores

a conhecer a doce amplitude

de tuas pernas, que iludem

A sobrevoar a sutil pequenez,

os arbustos da árvore do ser

O sol e a lua na tua face

a fundirem-se nesse enlace

Na caldeira de fábrica do Pleroma e Kenoma do agora:

Eu, Alfredo Diviaggi, estou realizado,

Contemplo o enigma da vida do outro lado

Sou a anti-matéria do meu antigo mundo

Fui a espada afiada, agora sou o escudo

Vocês enganavam uns aos outros sobre a morte

Este imenso holofote, aceso sobre os fortes.

Não há sangue, órgão, artéria ou veia

A morte é o puro horizonte da ideia

Cavalo desgovernado, vulcão ativo,

a entoar e renovar este belo ciclo

Quando eu morri, há tanto tempo,

Eu era uma caverna de esquecimento

Preocupado em colecionar flores

em vez de me perder em teus odores.

Só então conheci aquele jeito

Que sorri a torto e a direito

Uma semente de Sequoia por segundo

a irromper da Força, do Mundo.

A morte é uma nítida ilusão, eu sei

apenas uma das possibilidades do Ser

Um ente querido que se despede

Um rastro que não, não se perde.

É um sonho curto, um adeus

a própria face risonha de Deus

a dizer: Tchau, volte sempre!

E assim volta a fagulha contente.

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