Inflama, queima minha Alma que hei de te cantar.
Aqui, religando os Hermetismos e Ocultismos, reatando o horizonte nu de tudo!
Aqui, Nós, América, Sul, Centro Norte Leste e Oeste.
Nós da linha de frente amando os sprays de pimenta.
Nós que queimamos o incenso só para que ele cheire.
A roupagem tem que cair em prol da nudez do espírito,
O girassol continua sua revolução, segue a energia infinita do seu mestre.
A corola da rosa envolve-a numa fraternidade de abraços róseos-cheirosos.
E eu a conjurar a circularidade do tempo, a vontade desmesurada da Vida que não diz adeus.
E as construções a minha volta continuam seus sons de serras, de motores acelerados, da produção de comidas que cheiram castanhas.
E minha mãe continua suas tarefas de antiga moradora da cidade, com seus afazeres absurdos mas que contém mundos; sua crença simples, religião de infância nunca posta em causa.
E esse sermão pela incontingência da alma não vai desarvorecer, não vai ceder aos golpes ímpios do tempo do esquecimento.
Essa alma gostaria de estancar os ferimentos alheios; vem dançar comigo, vem entoar comigo esse poema, vem ver as palavras partirem daqui e tomarem proporções cósmicas.
Vem se molhar na água primordial da música que escorre das bocas,
Por dentro de cada um há somente a beleza, mistério que canta à multidão sinfônica de células.
E o sêmen jorra bênçãos, e os úteros ovulam bênçãos.
E nossos corpos dourados invadem a luminosidade clara das coisas, nós estrelas ofuscadas pelo brilho umas das outras.
E nossos olhos eram outrora o Sol e a Lua, fagulhas translúcidas da alma que geme.
Vem comigo ser Adão e Eva antes da queda no Século Vinte e Um. Não há queda. Não há queda alguma. Estamos erguidos e prontos para comungar pelo esplendor do Céu e dos Mares, das Estrelas e dos Luares.
Nossos átomos estão cansados em ser ora meu corpo, ora o teu.
Vem dançar esse mantra Hindu comigo, junto com a Tribo Caxinauá, aqui nos bosques de Sanca, numa calçada prosaica de Sampa;
E que os noivos e as noivas convidem minha alma para seus leitos sagrados. Essa alma não quer assustar ninguém.
E que meu braço toque a concretude física do seu corpo, e que ele pese apenas o quanto que ele pesa.
E eu afundarei meu rosto nessa grande exuberância das sensações, eu voltarei sorrindo do vórtex espiralado do que é.
E eu acariciarei a natureza impecável da montanha que não entrega os pontos e que permanece até não poder mais.
E beijarei as nucas dos que vêm até mim como um padre que ministra a eucaristia.
Essas pernas ainda serão o sustentáculo que avança e recua, que extravasa e recua.
Os olhos cintilando as matizes de quadros de Cézanne, abrindo-se como pétalas coloridas de marias-sem-vergonha, as Impatiens wallerianas.
E o nosso gemido pode ser escutado por Eras, nossa febre pode esquentar Alascas.
E as mãos lançadas na umidade que entrelaça esse novelo intrincado que é o seu rosto.
E que nós tenhamos túneis concretados bem sólidos com o Pater Omnipotens Aeterne Deus.
E que os já memoráveis expoentes da minha geração consertem seus destinos tresloucados. Eu quero que eles levem gargalhadas onde só há o desespero do choro, levem abraços onde só há separação. Que eles não se deixem levar pela correnteza ácida do alcoolismo e do vício.
Esses anjos que me guiaram até aqui – eu míope – que eles permaneçam entalhando à felicidade no rosto do tempo.
Sigam abrindo caminhos, fendas subterrâneas onde esbarra-se no passado.
Que o passado seja o foguete que irrompe no café-da-manhã de cada novo dia.
Que a reunião dos verbos sirva à matilha humana, que ela possa sorver à vida em fontes telúricas que não secam.
E que façamos novas sintaxes conforme a necessidade, e que alteremos a prosa e o roteiro quando quisermos.
Essa Alma que projeta-se para fora, que inscreve-se com a força das suas ondas na concretude do papel. O poema é o cardiograma preciso da orquestra de cada um.
E que voltem hordas reencarnadas de irmãos em universo e que os violões uivem:
Xi Le Xi La Ahhhh!
Le Xi Le Xi Ohhhhhhh!
O ponto final do poema só faz sentido porque sentimos que as Musas continuarão a espalhar suas benesses sobre nossos olhos, mãos, ouvidos e corações todo dia pela manhã.
E a Mente Brasileira despojada, alçará voo de Condor através da Planície ensolarada do São Francisco, o Velho Chico.
E nós vamos estar deitados olhando para cima, para a abóbada da nossa morada terrestre, para o Céu profundo que reluz à grande encarnação da Dúvida.
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