A minha Índia

Debaixo daquela araucária, canta o fogo-apagou

às vezes és de onde venho, às vezes para onde vou

Dança o filete de grama, implora um riso, um amor

Inundado de certezas, não há resquícios de dor

Debaixo daquela araucária, canta o fogo-apagou

Convoca um novo tipo de sonho, o teu já voou

Transmuta-te indígena, transmuta-te de ontem

Alarga e consome os limites desse horizonte

Vem ser mãe para seus filhos, não se esqueça jamais,

Que a América é jovem, dá-nos o teu sonho, dá-nos mais.

Fazia sol forte no primeiro dia que nos entreolhamos,

o teu Punjabi vestido com a sabedoria de tantos anos

Aos jainas devo a não-violência, o vegetarianismo

Obrigado Gandhi, por ser uma janela desse lirismo

Deixa entrar a paz-perpétua, a ousadia do direito

Que aplica a tinta do sagrado a todos os feitos

Tu, Ó pensamento Oriental Sagrado que levanta voo

ensina o nosso passivo Ocidente a sair do sono

Permita que o sussuro suave dos teus espiritualistas,

atrapalhe o cochilo profundo dos nossos especialistas.

Que a Yoga garanta o nirvana de existir

na sociedade que atropela-se ao consumir

Que os Upanishads sejam a cartilha

De cada um da nossa débil matilha

Por que não desacreditar o deus consumo?

Desoperalizar o luxo? Forjar um novo rumo?

Um sábio a cada mil fará mais para o Brasil

Do que um rico em cada cem, embebido de desdém.

A Índia é a escapatória, sua Filosofia

é o Sol para o eclipse eterno do nosso dia.

Tornar-se Buda e comungar na onisciência de tudo

deveria ser o grande e único mandamento do mundo.

Enquanto o Mahabharata não for o pão e o leite

que nutre a todos, da aurora ao sol poente

Continuaremos a comprar, ingrata ilusão

Antepondo-se à beleza eterna da imensidão.

Eu que fui pra Índia tantas vezes, que sentei-me

aos pés de brâmanes por tanto tempo, que recebi

mensagens do além, eu que sou a encarnação do

passado, que sigo realizado, que vi o inefável.

Eu que sofro a ignorância da raça, o sacrifício

animal, a injustiça perpetrada. Eu que vi

as tradições zombadas, os fantásticos mitos.

Eu que me sei desajustado para tantos títulos

e posses, tantas realizações importantes.

Eu recorro a ti com um singelo pedido,

permitas a esse povo recobrar o sentido

que esse hemisfério em coma, tão moderno

livre-se da ganância e volte-se ao velho

que meu povo consiga a iluminação que tu,

Índia,

tens de sobra.

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