Ouvir com cuidado é mais difícil que falar de si.
Sustentar os olhos nos olhos, jogo disputado entre o ilimitado e infinito, é mais difícil que desviar o olhar.
Dizer-se de si mesmo é mais difícil do que dizer de outras pessoas e coisas.
Perder-se nos meandros dos sonhos próprios é mais fácil que erigir os castelos oníricos de outrem.
Pensar através de imagens é mais difícil do que pensar através de conceitos.
Molhar-se na chuva fresca da presença de pessoas agradáveis é mais fácil que enfrentar as tempestades que avassalam continentes inteiros de uma psicologia solitária.
No esconde-esconde, ganha quem se esconde melhor.
A meditação, os rituais que vão buscar o tesouro nos finais dos arco-íris, são mais difíceis que a luxúria e a megalomania que são leis com Constituição Federal e tudo.
É mais difícil ser seasoned do que adventurer.
É mais fácil ser ladino que justo.
Timidez é entrar numa piscina psicológica aquecida pela primeira vez, molhando cada parte do corpo antes, para evitar choques.
É cordialidade, ausência que clama à presença alheia.
Fácil é imiscuir-se nos bairros e seus bares, difícil é tecer o crochê da revolução nos lares.
Difícil é conter os próprios desejos autodestrutivos mais caros, fácil é o remédio, o médico.
Difícil é permitir à música o embalar do berço da alma, fácil é apenas ouvi-la.
Difícil é esbarrar em possíveis duetos, harmonias, num mundo que cultua os ruídos.
Fácil é ter os cabelos regrados, difícil é sustentar o caos que grita dos revolutos cachos.
Fácil é o amor à família, aos vizinhos, difícil é a fraternidade universal: aos Palestinos!
Fácil é ter plano de carreira, seguir ordens. Difícil é fundar os planos, las carreteras, com o tijolo inominável da luz da Beleza.
Fácil é intermediar-me por um papel, uma tela, atuação num roteiro delineado por uma imaginação tortuosa,
Difícil é o sempre improviso diante da plateia dos olhos, dos risos,
Que como um bote de índio, segue seu curso no caudaloso rio,
Convidando à reunião dos mundos, dos acasos,
há tanto tempo desencontrados,
que diante do regato,
olham seus retratos,
trocando cuidados,
despojados,
intenso contato,
Natureza do fado,
Destino de Ferro e Aço,
Forjando no peito o abraço,
Na emoção a espera pelo Ato,
Nos corações o sonho delicado,
De não ser passageiro solitário,
Nesse grande barco imaginário,
Que convencionamos chamar Vida.
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