São Paulo, dia 06 de Dezembro de 2009. (Reencontrada hoje, 2014)
De um lado ao outro sozinho, lado outro.
Uma janela que faz penetrar universos, aqui, numa caixinha de 30 metros quadrados.
É tão difícil não se tornar os que passam desolados pela janela.
É tão difícil retirar o olhar pálido que a janela não ousa esconder.
Mas estou longe, distante, que nem me podem ver, nem as pessoas que passam, nem a árvore que não passa.
Esta permanece indiferente as outras vidas lá em baixo e a mim.
Continua o seu ballet matinal sedutor, quer eu a esteja cultuando ou não.
Hoje sei; hoje sem hesitar eu soube. Hoje esta árvore me revelou o segredo profundamente enraizado em todas as árvores!
Ela disse-me: Rafael, sou todas as pessoas que já viveram, e estou aqui agora para ser todas as outras pessoas que ainda serão.
Comecei então a procurar por mim nela, tomado por curiosidade infinita.
Procurava pela minhas matizes, os meus tons, gestos, toques e perfumes naquela árvore gigantesca.
Por fim, exausto da procura, gritei para a massa verde:
– Se és todos onde estou eu?
No que ela me respondeu calmamente:
– A parte que te corresponde está a 10 palmos embaixo da terra, nas minhas raízes.
– Ah é! – Respondi -, sentindo-me desafiado, fui até a casa, peguei um baita machado e ferozmente pus a grande árvore abaixo, na ânsia daquele relicário tão caro a mim, daquilo que eu realmente era.
E quando pude me ver ali, miniaturizado naquela raiz, não gostei nada nada do que vi, dei meia volta, uma cuspida seca, e fui fazer um café.
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